terça-feira, 27 de abril de 2010

Chuvas de abril

Um antigo poeta falava sobre as "águas de março", rotineiras em nossa cidade, mas citava-as de maneira poética,como o encerramento de um período particularmente bom para os cariocas, o verão.
Hoje, em qualquer período do ano, a chuva deixou de ser poética para se tornar catastrófica.
A primeira pergunta que surge em nosso pensamento, ao vermos tantas tragédias, é em responsabilidades. Lógico que a primeira culpada é a própria chuva que veio e, hora errada, como se existisse hora certa para chover. Passado o primeiro momento, nos damos conta de que os motivos de tanta tragédia são variados. Quando se trata de lugar pobre, logo se culpa o morador."Afinal, quem mandou ele morar logo ali?" Muito mais fácil isso do que nos questionarmos e aos nossos políticos sobre urbanização viável, sobre um desenvolvimento planejado. Sim, as pessoas menos privilegiadas não escolhem onde morar, moram onde podem.
A pergunta que fica é : quem deveria fiscalizar essas construções? Não deveriam ser proibidas ou mesmo desinstaladas assim que se verifica sua inviabilidade? Mas o que ocorre não é isso, as ditas favelas vão sendo aceitas, por nós que não nos manifestamos, pelo governo que lhes dá a estrutura básica de luz, água, esgoto, telefonia. Ora, se um governo instala em local povoado toda a estrutura básica para um povo viver, deve supor-se que ele "o governo" aprova tal favela, bairro ou comunidade, como é mais comum de se chamar hoje em dia.
Acham natural, afinal pode até ser fonte de alguns votos na próxima eleição, dar moradia aos pobre coitados, mesmo que se saiba que o terreno é instável, que abaixo dele existe um lixão, que terrenos estão sendo desmatados de forma predatória. O que importa? Importa o momento.
Não estou aqui para acusar nem apontar culpados, por achar que a culpa cabe a todos nós que não pensamos nosso país, que vamos deixando as coisas acontecerem de forma aleatória.
Mas um belo dia vem a chuva, e centenas de pessoas são mortas de forma cruel, milhares perdem seu lar, sua dignidade, sua referência de vida.
Nesse momento o ideal é parar, parar mesmo e pensar, ou melhor, repensar qual o direito e o dever de cada um.
Sem paternalismos ou assitencialismos, mas como o sentido verdadeiro de cidadania. Criar uma nova consciência de que o problema de um é problema de todos.
Juntos, em nosso cotidiano, aprendemos que a natureza deve ser respeitada, que o cidadão tem direito a moradia decente.
Um passo de cada vez, mudanças sutis em nosso modo de viver e agir. Todos. Povo e Governo.
Quem sabe assim amanhã poderemos viver e cantar de forma poética o sentido das chuvas, sejam de verão ou de qualquer outra estação, com a alegria de saber que é apenas mais uma canção.

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